Sabe quando algo ou
alguém te dá um susto e você age por reflexo, dando um salto para o lado,
abaixando a cabeça ou levantando as mãos para se proteger? Isso ocorre porque
todo ser humano é condicionado a ter reflexos instantâneos e instintivos, de
acordo com cada situação que se apresenta inesperadamente em seu caminho. Todos
agimos por reflexo, adestrados que somos a tomar certas atitudes diante de
circunstâncias específicas. O resultado é que, como somos fruto do meio em que
vivemos, mesmo sendo cristãos não é raro fazermos escolhas mundanas – por puro
reflexo. É nesse momento que entra em cena o Espírito Santo. Ele nos faz parar,
pensar e ver que aquilo que fizemos não foi nada bonito. Ou seja, depois do
reflexo vem a reflexão. Sob o poder de Deus, a reflexão acerca de reflexos
equivocados pode nos levar a ter reflexos acertados no futuro. Para
exemplificar o que estou dizendo, permita-me relatar um episódio que me
aconteceu recentemente.
Entrei em uma loja de
conveniências para sacar dinheiro. No exato momento em que estava no caixa
automático, fui abordado por um adolescente, visivelmente muito humilde, sujo e
mal vestido, que carregava uma caixa de engraxate.
- Tio, compra alguma
coisa pra eu comer?
Você sabe como é:
quando estamos digitando nossa senha, não gostamos de ter gente estranha por
perto. Então eu, por reflexo, cobri o teclado com a mão e, sem nem ao menos
olhar para o rapaz, por reflexo balbuciei qualquer coisa parecida com um “agora
não”. Ele recuou e continuei a operação, torcendo que desistisse de mim e fosse
abordar outra pessoa. Só que, no que terminei, me virei e dei de cara com ele,
me esperando. Para piorar, vi que o jovem estava acompanhado de um menininho,
possivelmente seu irmão. Tive apenas um segundo para decidir o que fazer. Você
pode imaginar que, obviamente, como sou um bom cristão e escrevo sobre a fé num
blog e em livros, eu agi da forma mais bíblica possível, amparando aquelas
vidas e dando de comer a quem tinha fome, certo?
Errado.
Naquele segundo
decisivo, agi por puro reflexo mundano. O Maurício cristão parecia ter
evaporado. Em vez de abrir mão de mim, comprar alimentos para os dois e agir
segundo a graça, a compaixão e o amor, eu, por reflexo, virei a cara, dei as
costas e saí pela porta, deixando para trás aqueles dois seres humanos famintos.
Naquele segundo
decisivo, agi por puro reflexo mundano. O Maurício cristão parecia ter
evaporado. Em vez de abrir mão de mim, comprar alimentos para os dois e agir
segundo a graça, a compaixão e o amor, eu, por reflexo, virei a cara, dei as
costas e saí pela porta, deixando para trás aqueles dois seres humanos famintos.
Eu poderia me
justificar, usando o reflexo como desculpa para dizer que não tive oportunidade
de consertar o erro – afinal, agi segundo um impulso condicionado e não havia
como voltar atrás. Mas seria uma mentira. Pois, assim que saí da loja, tive de
parar para atravessar a rua, uma vez que o sinal estava vermelho para os
pedestres. E, naquele momento, não houve reflexo algum. Fiquei ali por, no
mínimo, um minuto, parado. Na minha cabeça, uma sirene tocava, dizendo algo
como “volte lá, seu egoísta sem compaixão, dê de comer a quem tem fome, seu
cristão de meia tigela, avarento e servo de Mamom!”. Sim, eu tive tempo de
sobra de girar sobre os calcanhares, voltar para a loja e comprar algo para
aquelas duas vidas matarem a fome. Mas a verdade é que fiquei ali, estagnado. O
sinal abriu e segui meu caminho.
Esse episódio aconteceu
há quase dois meses, mas até hoje não sai da minha cabeça. De lá pra cá me
peguei pensando muitas vezes: por que eu tomei aquela decisão? Por que não fiz
o que Jesus nos disse para fazer? Por que não amei o meu próximo? Por que não
dei de comer a quem tem fome e de beber a quem tem sede? Por que virei as
costas para Cristo quando ele se apresentou para mim na forma de dois meninos
carentes?
Creio que o mundano que
habita em mim naquele momento falou mais alto do que o cristão que habita em
mim. Eu reagi como o mundo reage, por reflexo. Agi segundo meus próprios
interesses egoístas. E, depois, quando parei para pensar e tive tempo de
reformular meus atos, não consertei meu erro, simplesmente segui a correnteza
de acordo com o pensamento do mundo. Naquele momento, meu coração não estava em
Cristo. Como Paulo explicou muito bem: “Porque não faço o bem que
prefiro, mas o mal que não quero, esse faço” (Rm 7.19).
Eu e você vivemos isso
muitas vezes. Como estamos no mundo, somos contaminados pelos valores e os
padrões do mundo. E, quando somos pegos de surpresa, despreparados, se não
estivermos encharcados do evangelho, vamos agir por reflexo – e reflexo
mundano. Porque é fácil ser cristão ao final do culto, no ambiente
eclesiástico, após passar duas horas vivendo a realidade da presença divina.
Mas, no dia a dia, depois de ficar longos períodos com a mente apenas nas
coisas deste século, corremos o sério risco de agir como cidadãos do mundo. Por
isso é essencial imergirmos nas coisas de Deus todos os dias, seja pela oração,
seja pelo estudo da Palavra, seja pelo jejum ou as demais disciplinas
espirituais. Temos de estar em Cristo diariamente, a todo momento, ininterruptamente,
sem trégua.
Em certa ocasião, Jesus
disse: “Em verdade vos digo: Quem não receber o reino de Deus como uma
criança de maneira nenhuma entrará nele” (Mc 10.15). Já ouvi muitas
interpretações acerca do que o Mestre quis dizer com isso. Entendo que uma
criança ainda não teve tempo suficiente de ser influenciada pelo seu entorno.
Meninos e meninas, embora carreguem o pecado dentro de si, ainda não foram
condicionados a agir desta ou daquela maneira. Seus reflexos mundanos não estão
estabelecidos. São diamantes brutos, puros. Nós, adultos, não: estamos altamente
contaminados com maneiras de agir que nos ensinaram por aí. No caso específico,
já ouvi tantas vezes que devemos ignorar os pedintes, reter esmolas e fugir de
estranhos que pedem dinheiro que simplesmente me deixei levar por essas
filosofias. Só que são filosofias humanas e não divinas. Deus manda amar,
estender a mão, ajudar o necessitado, cuidar do pobre, amparar o desamparado.
Não vejo na Bíblia Jesus dizer o que já ouvi incontáveis vezes, de diferentes
pessoas: que não devemos dar esmolas porque, se o fizermos, estaremos
estimulando a mendicância. O que o Senhor disse foi: “Então, o Rei dirá também aos que estiverem à sua esquerda:
Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus
anjos. Porque tive fome, e não me destes de comer; tive sede, e não me destes
de beber…” (Mt 25.41-43).
Minha filha acabou de
completar 3 anos. Minha esposa, que é infinitamente mais generosa do que eu,
propôs que era hora de ela dar parte de seus muitos brinquedos a crianças
carentes. Chamamos a pequena, lhe explicamos a ideia e minha filhinha, sem
pestanejar, separou alegremente para doarmos muitos de seus bens, de bonecas ao
seu velocípede. Confesso que, ao ver a bondade do coração da minha filha, me
lembrei do episódio da loja de conveniências e senti vergonha de mim. “Quem não receber o reino de Deus como uma criança de maneira
nenhuma entrará nele”… Tenho buscado aprender mais sobre o reino de
Cristo observando minha pequenininha. Em especial, tentando reagir mais como
Jesus reagiria e não como o mundo me ensinou. Mudar meus reflexos.
Mas há um aspecto
interessante nessa história. Depois de tudo o que relatei, há pouco tempo eu
estava em um restaurante no Leblon (bairro nobre do Rio) e entrou pela porta
uma menina pedindo comida. Imediatamente o gerente quase voou em cima dela para
expulsá-la. Meu reflexo, naquele momento, foi totalmente diferente do fiasco na
loja de conveniência: pedi ao gerente que a deixasse se aproximar e dei a ela
uma parte de nossa comida. Minha filha observou minha atitude e espero que isso
contribua para desenvolver nela reflexos cristãos nas situações inesperadas.
Quando a garotinha saiu, eu estava com paz no coração e, sinceramente, feliz.
Não posso voltar atrás e alimentar aqueles dois meninos da loja de
conveniências, nem mesmo sei seus nomes ou o que aconteceu a eles. Mas ficou o
duro aprendizado. E oro a Deus que todos os meus amargos fracassos espirituais
sirvam para aprimorar meus reflexos em Cristo.
Você errou? Cometeu
deslizes dos quais se arrepende amargamente? Ou mesmo acha que, de tanto ter
errado, não tem jeito para você? Então espero que minha experiência e minha
atitude vergonhosa o ajudem a ver que é totalmente possível aprender com os
erros, se aprimorar e desenvolver reflexos baseados nos valores do evangelho,
para que, no futuro, você reaja ante as circunstâncias inesperadas da vida da
mesma forma que Jesus reagiria.
E, assim, eu e você
estaremos a cada dia mais próximos de refletir a glória de Deus para este mundo
tão faminto de graça e amor.
Paz a todos vocês que
estão em Cristo,
Por: Maurício Zágari
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