Alguns
irmãos queridos vieram me perguntar por que não divulguei meus últimos posts
aqui do APENAS pelo twitter e pelo Facebook, como tenho feito nesses quase 14
meses de existência do blog. Senti que precisava dar uma satisfação a quem me
acompanha e se identifica com o que escrevo. Fato é que abandonei as redes
sociais. Mas, antes de chegar nessa questão específica e de menor importância,
gostaria de refletir um pouco sobre algo bem mais relevante no que tange a esse
assunto e que está relacionado a ele: aquilo que chamo de Religião Internet.
É inegável que o surgimento da rede mundial de computadores mudou muito a vida
da Igreja, em especial no Brasil. A primeira vez que surfei (sim, usávamos esse
termo no século passado em vez de “naveguei”) na web foi ainda num browser
Netscape Beta, por volta de 1995. Para alguém de até uns 20 anos pode ser
engraçado ler isso, já que deve pensar “como era possível viver sem Internet”?
Pois acredite: era. E éramos felizes sem ela. Hoje achamos que a vida sem
Internet é impossível. Só que não é. Sei que meu comentário vai na contramão do
que muitos advogam, mas creio que a inclusão digital não é tudo isso que dizem
– tanto que a humanidade viveu milênios antes que Bill Gates ou Steve Jobs
existissem. E, no caso da Igreja, quando falamos de redes sociais torna-se
ainda mais irrelevante e até problemática.
Como disse
John Piper, “uma das maiores utilidades do twitter e do Facebook será provar no
último dia que a falta de oração não era por falta de tempo”. O que é
absolutamente irônico é que li essa frase no Facebook. E sou obrigado a
concordar com Piper, simplesmente porque ele tem razão. Mas concordar com isso
e compartilhar essa frase no Facebook… é a contradição das contradições! A
verdade é que, se acredito nessa afirmação, não adianta compartilhar a fotinho
ao lado: preciso agir com a coerência que essa frase me exige. E só Deus sabe o
quanto eu preciso orar mais, buscar mais intimidade com o Pai, me santificar e
ser um homem a quem Jesus diga naquele dia: “Bem-vindo, servo bom e fiel”. E as
redes sociais não estão me ajudando em nada nesse sentido. Mas daqui a pouco
falo mais sobre isso.
Entenda, não
demonizo a web. Sei todas as coisas boas que ela pode proporcionar. Cá estou
eu, por exemplo, sendo lido por você via Internet. Há muitas coisas positivas,
quando o seu uso e seu propósito são benignos. No entanto, o que quero abordar
hoje não são as inúmeras vantagens que a rede mundial de computadores trouxe
para nós, mas os males que gerou para o Corpo de Cristo.
O maior
deles é a ideia de que é possível substituir a igreja local e a comunhão dos
santos por uma pseudoprática de fé via web. Multidões têm se protegido
misantropicamente das decepções com pastores e membros se entrincheirando na
segurança de seus notebooks. Formam “igrejas” (embora se recusem, irritados,
que usemos essa palavra) com indivíduos reduzidos a avatares que acham que
conhecem e com quem trocam meia dúzia de palavras pela rede. Talvez bate-papos
via MSN, frases curtas via twitter ou alguns textinhos pelo Facebook. Formam
seu aprendizado de fé assistindo a cultos on-line, acompanhando vlogs de 5
minutos de pregadores famosos, lendo blogs como o APENAS e ouvindo bate-papos
em podcasts muitas vezes – me perdoem – teologicamente ridículos. Mas meu blog,
por exemplo, não substitui a igreja. Meu blog não substitui uma pregação. Meu
blog não substitui a adoração. Meu blog não substitui a oração de uns pelos
outros. Meu blog não substitui o aconselhamento pastoral. E quando falo do
APENAS, o estou usando como arquétipo de todas as mídias que mencionei acima –
e muitas outras. A Internet é a cerejinha do bolo da fé, mas há muitos que estão
pondo o bolo em cima da cereja.
Há também o
problema da enorme mistura de teologias, doutrinas, ensinamentos e doideiras
que o internauta que substitui a vida em comunidade pela Religião Internet
absorve. Lembro quando dava aula em seminário teológico, passava trabalhos para
os alunos e, em vez de uma pesquisa, recebia de volta páginas impressas da
Wikipédia. Que, aliás, é uma bênção e uma desgraça ao mesmo tempo, visto que
pode esclarecer muitas coisas mas qualquer um pode postar o que quiser ali – o
que torna essa ferramenta altamente desconfiável. Mas damos mais atenção à
Wikipédia e a sites correlatos do que a livros que exigiram pesquisa, revisão,
o crivo dos editores e são, eles sim, fontes confiáveis. Mas nossa preguiça e
nosso imediatismo tornam mais fácil escrever uma palavrinha no Google e ver o
que a loteria da pesquisa vai jogar em nosso colo como primeiras opções do search.
E é nelas que confiaremos – sem ter conhecimento sobre quem escreveu, que linha
segue, que teologia ou crenças nortearam aquela fonte de dados. Como ouvi certa
vez, não me recordo de quem, substituímos o saber pela informação. E informação
não forma ninguém, conhecimento adquirido com muito estudo e suor sim.
A Bíblia
Sagrada foi trocada por versículos tuitados e frasezinhas descontextualizadas
de Spurgeon, Paul Washer e outros homens de Deus. Ou então de pregadores da
moda – muitos deles hereges. Na vida de muitos, o texto bíblico foi substituído
por citações de pessoas que ensinam doutrinas diabólicas, como a que afirma que
o que você disser com fé vai acontecer, ou que a Bíblia é um livro de homens e
não de Deus, ou que Deus não exerce sua soberania nas tragédias, ou que o
cristão autêntico tem que ter prosperidade material. Tudo absurdos bíblicos –
mas muitos não sabem discernir, pois valorizam mais a beleza poética do que é
dito do que a correção bíblica. Sejamos francos e não vamos esconder o problema
sob o tapete: se não têm intimidade com as Escrituras, como discernirão o erro?
Cairão fácil nos engodos.
Conheço um
“pastor” que escreve frases lindas no twitter. Poderia jurar que ele é um
conservador, até, não fosse o corte de cabelo modernoso. Mas, quando você vai
ao blog dele, descobre que é um esotérico que acha que Jesus é um
extraterrestre e que vai voltar num disco voador. Não ria, isso não é piada, é
um fato. Possivelmente você o segue, visto que ele tem mais de 5.600
seguidores. O lê, o retuita, acha lindo o que ele fala e nem ao menos sabe que
seus ensinamentos são tresloucados. Ou o pastor garotão que fica falando sobre
a “contextualização” do Evangelho, ensinando montes de mundanismos – e a turma
adora. Ou o pastor herege que joga a Bíblia no lixo. Ou o professor de
pós-graduação que ensina a demoníaca Teologia Liberal e fala que o Cristo do
cristianismo clássico é invenção grega – mas como ele fala tão bonito e tem uma
carinha tão simpática muitos o amam, sem saber o perigo que ele representa para
milhares de almas humanas por ensinar um Jesus que não é o da Bíblia.
E aí
chegamos às redes sociais. Tinham tudo para ser uma incrível ferramenta a
serviço do Reino de Deus. Mas do jeito que têm sido usadas se tornaram em
esmagadora parte uma perda de tempo precioso que poderia ser investido numa
devocionalidade real – e que, essa sim, nos tornaria pessoas mais próximas de
Deus. Posso falar por mim: as redes sociais me afastaram muito de Cristo e dou
a mão à palmatória quanto a isso. Analisemos friamente e sem olhar apaixonado:
o Facebook é o universo da irrelevância. Se você peneirar ali o que realmente
tem utilidade verá que se resume talvez a 1% do que entra na sua tela. O
twitter, com seus 140 caracteres, já é, por sua vez, o universo da
superficialidade. Como é possível achar que um complexo pensamento teológico
pode ser destrinchado nesse microespaço? Impossível. O Orkut? Ah, é verdade, o
Orkut morreu, graças a Deus.
Muita gente
já me deu #FF no twitter junto com algumas dessas pessoas. E quando vejo isso
me pergunto como um irmão pode dar #FF no mesmo tuíte para alguém como eu, que
crê no conservadorismo bíblico, e para alguém que prega o liberalismo
teológico, crença extremamente oposta à minha e que considero uma heresia. Não
consigo compreender tamanho contrassenso. Sim, a Religião Internet é um perigo.
Quem substitui a sólida doutrina de suas igrejas pela babel da www corre sérios
riscos de absorver ensinamentos terríveis mas que têm aparência de piedade.
É por tudo
isso e outros fatores pessoais que decidi me retirar, pelo menos por um longo e
indefinido período sabático, das redes sociais. Minhas poucas entradas serão
por exigência de meu trabalho. Na web só continuarei escrevendo no APENAS e nas
minhas colunas em sites e revistas – artigos que alguns acham enormes,
tão viciada a Igreja está em textos minúsculos e tão desacostumada está de ler
livros (e me pergunto se alguém que reclama do tamanho de meus textos leria os
28 capítulos do evangelho segundo Mateus ou os 50 de Gênesis…).
Fato é que
as redes sociais não têm feito bem à minha vida espiritual, além de me tomarem
um tempo precioso, que preciso dedicar mais à leitura, à oração, a
relacionamentos com pessoas tridimensionais a quem eu possa aconselhar e que
possam me aconselhar e ouvir a confissão de meus pecados, gente com quem eu
possa comungar sem a falta de prosódia que relacionamentos virtuais geram. Pela
tela do computador ninguém consegue enxugar minhas lágrimas, nem eu consigo
estender o ombro a quem precisa. Quero me recolher a minha vida real e resgatar
a devocionalidade que vivia antes de entrar nas redes sociais. Quero que a
frase de John Piper ganhe consequência em minha vida. Tenho sentido a
imperativa necessidade de me aproximar mais de Deus e me afastar desse universo
paralelo, que me conduz a pecados que passam pela ira, o rancor e muitos outros
que a irrealidade virtual gera – o que tem atrapalhado minha saúde física (num
momento em que me trato de estresse) e espiritual. Sem falar de tristezas,
decepções, chateações e similares que pulam dentro de minha casa pela tela do
notebook.
Já tem cerca
de dois anos que praticamente parei de assistir a televisão. Não tem nada a ver
com crer que TV seja pecado. Simplesmente perdi o interesse pelos telejornais
mentirosos, os seriados que não edificam, os documentários falaciosos. Não
serei hipócrita de dizer que aboli a TV da minha vida, eventualmente assisto a
uma ou outra coisa que penso que será interessante. Mas talvez não chegue a 3
horas por semana, no total. E posso afirmar a monstruosa diferença que
afastar-se do vício por TV faz. Não tenho absolutamente nenhuma vontade de
voltar a consumir essa mídia como fazia antes, e por uma simples constatação:
depois que você se desintoxica ela não faz a mínima falta.
Agora quero
fazer a mesma coisa com as redes sociais. Quando as descobri achei que seriam
edificantes. Experimentei. Hoje, fazendo um balanço, vejo que não foram, pois
mais me afastaram de Deus do que me aproximaram. Tirei muitas coisas positivas
delas, creio ter contribuído um pouco, mas chegou a hora de parar. Preciso
respirar mais do ar puro da vida real e retornar a 1995, quando os amigos marcavam
um café para se encontrar, nos telefonávamos, mandávamos cartões de Natal
escritos a mão. Hoje as pessoas mandam scraps impessoais no Facebook nos
aniversários, trocam farpas pelo twitter, vivem relacionamentos bidimensionais.
Não tem me feito bem. Creio que eu também não tenha feito bem a muitos,
reconheço as críticas, aceito as que são justas e prefiro esquecer as injustas
– pois na minha luta para me aproximar de Cristo me esforço para não devolver
mal com mal. Quero avançar para trás e viver a vida que existe fora das telas.
Por isso,
desde o dia 29 de junho parei de usar minhas redes. Não entro, não olho, não
escrevo nelas, salvo uma ou outra coisa feita por questões de trabalho. Vou
deixá-las congeladas – possivelmente abandonadas – por período indeterminado.
Usava-as muito para divulgar posts novos do blog, o que de fato foi proveitoso,
pois o APENAS acabou de completar 350.000 acessos em pouco mais de 13 meses no
ar. Se você tem interesse em continuar lendo as reflexões que aqui são
postadas, pode juntar-se aos 1.027 irmãos e irmãs que até a data de hoje
gentilmente assinaram o blog e recebem os posts novos por e-mail. Ou, se
lembrar, dar uma passadinha por aqui de vez em quando ou nas colunas que
escrevo em outros sites e revistas. Mas não vou mais divulgar as
postagens novas pelo twitter ou o Facebook.
Sei que o
número de acessos vai diminuir (percebi que sair das redes reduz em cerca de
250 acessos por dia, em média), mas, honestamente, não me importo, pois minha
oração a Deus hoje é que conduza até o APENAS somente aqueles que Ele entende
que precisam ler as palavras de edificação, consolo e exortação que aqui são
publicadas. A partir de agora, é o Espírito de Deus quem fará a divulgação de
novos posts.
Quero
agradecer a você que teve a paciência de me aturar esses cerca de dois anos em
que estive no twitter e poucos meses no Facebook. Mas a Religião Internet tem,
na verdade, me afastado de Deus. Quero retomar essa proximidade. E, como disse,
para isso é fundamental retroceder. Lembrar-me de como era antes de entrar em
redes sociais. Creio que será melhor para mim e, acredito, para muitos que não
coadunam comigo. Que Deus abençoe você, meu irmão, minha irmã, e que possa
viver a sua fé no mundo real, sem as ilusões que as redes sociais, com todos os
benefícios que proporcionam, oferecem – e que ameaçam a intimidade com Deus, a
santidade e a comunhão com os irmãos que nós, cristãos, precisamos ter. Deixo
um beijo e um abraço aos manos e manas com quem me relacionei em edificação
pelas redes.
Seguirei aqui
pelo blog, este meu mosteiro virtual, onde vou me enclausurar para continuar
compartilhando como vaso de barro que sou o tesouro do Evangelho em que creio,
o poder da graça, a denúncia de heresias, o amor de Cristo e a promessa de
restauração a todo aquele que se arrepende e vai viver a eternidade ao lado do
Pai, do Filho e do Espírito Santo. Pois redes sociais são irrealidade. Já o Céu
e o Inferno são o que há de mais real.
Paz a todos vocês que estão em
Cristo.
Louvai ao Senhor!
Por Cristo. Em Cristo.
Para Cristo.
Que Deus lhe abençoe!
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