terça-feira, 5 de novembro de 2013

Evangelho de Lucas 20,27-38



Os saduceus afirmam que não existe ressurreição. Alguns deles se aproximaram de Jesus, e lhe propuseram este caso: “Mestre, Moisés escreveu para nós: ‘Se alguém morrer, e deixar a esposa sem filhos, o irmão desse homem deve casar-se com a viúva, a fim de que possam ter filhos em nome do irmão que morreu’. Ora, havia sete irmãos. O primeiro casou e morreu, sem ter filhos. Também o segundo e o terceiro casaram-se com a viúva. E assim os sete. Todos morreram sem deixar filhos. Por fim, morreu também a mulher. E agora? Na ressurreição, de quem a mulher vai ser esposa? Todos os sete se casaram com ela!”.



Jesus respondeu: “Nesta vida, os homens e as mulheres se casam, mas os que Deus julgar dignos da ressurreição dos mortos e de participar da vida futura, não se casarão mais, porque não podem mais morrer, pois serão como os anjos. E serão filhos de Deus, porque ressuscitaram. E que os mortos ressuscitam, já Moisés indica na passagem da sarça, quando chama o Senhor de "o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó’. “Deus não é Deus de mortos, mas de vivos, pois todos vivem para ele”. Alguns doutores da Lei disseram a Jesus: “Foi uma boa resposta, Mestre”.

E ninguém mais tinha coragem de perguntar coisa nenhuma a Jesus.


A vida depois da morte


O evangelho traz à luz o antigo e sempre atual questionamento sobre o que acontece depois morte. Existe vida, ressurreição?

Jesus responde a esta pergunta, mas para entender sua resposta, precisamos conhecer um pouco sobre a fé na ressurreição no Primeiro Testamento.

Porque é dessa tradição veterotestamentária que bebe Jesus e os primeiros cristãos.

O texto explica claramente que os saduceus não acreditam na ressurreição. Eles se opõem ao pensamento inovador dos fariseus que afirmam a ressurreição, a existência de anjos e acreditam no juízo de Deus.

Quando lemos o Primeiro Testamento, descobrimos um Deus da vida e dos vivos. O livro do Deuteronômio O apresenta como “o Senhor da vida e da morte” (Dt 32,39).

O segundo livro dos Macabeus, em que se narra o martírio dos sete irmãos e sua mãe, expressa a esperança deles na ressurreição: “É o Criador do mundo que formou o homem em seu nascimento e deu origem a todas as coisas, que vos retribuirá, na sua misericórdia, o espírito e a vida...”(2Mac 7,23).

Dessa maneira, este texto, assim como outros (Sl 73, 23; Is 26,19; Os 6, 1-3), nos revelam um Deus que é fiel à aliança que fez com seu povo, e essa fidelidade é salvadora. Por isso os justos, aqueles/as que vivem conforme a sua lei, não conheceram a corrupção, senão a vida em plenitude que Deus lhes dará em recompensa.

Jesus se situa em continuidade a esta fé, tomando as palavras de Moisés, afirma sua crença num Deus que “não é Deus de mortos, mas de vivos, pois todos vivem para ele”.

Ele conhece o amor de seu Pai a cada uma de suas criaturas e sabe também que esse amor criador, incondicional, é mais forte que a morte, a ponto de ele mesmo chegar a proclamar: “Eu sou a ressurreição e a vida, quem acredita em mim, mesmo que morra, viverá” (Jo 11, 22).

O texto de hoje quer também esclarecer o conceito de ressurreição. Podemos fazer uma parada e nos perguntarmos qual é nossa ideia sobre a ressurreição dos mortos.

A pergunta dos saduceus a Jesus se baseia na lei judaica do levirato, que buscava proteger a viúva. Quando o homem morre sem deixar filhos, seu irmão deve tomar sua mulher para cuidar e também gerar prole. Então, “na ressurreição, de quem a mulher vai ser esposa?”.

Esta pergunta desenha um imaginário errôneo de ressurreição como repetição desta vida, anulando a novidade que a ressurreição cria, gera, não regida mais pelas leis físicas ou biológicas, senão pelo amor de Deus no qual a criatura ressuscitada participa.

Isso não quer dizer que a pessoa, ao ressuscitar, perde sua identidade, diluindo-se na presença de Deus.

Ao contrário! Assim como Jesus, ao ressuscitar, alcança sua plenitude humana, seus irmãos e irmãs que morrem, ao ressuscitar, não perdem sua identidade, continuam sendo eles/as e seu mundo de relações que os/as definem, mas de uma maneira mais plena, total, que transcende as barreiras do tempo e do espaço.

O teólogo espanhol Andrés Torres Queiruga, refletindo sobre a afirmação de Jesus de que na ressurreição os homens e as mulheres “não se casarão mais, porque não podem mais morrer, pois serão como os anjos”, considera que estas palavras não anunciam uma vida abstrata ou despersonalizada.

Antes, elas aludem à plenitude do novo modo de existência, em que o amor, porque estará livre do egoísmo, não se submeterá à rivalidade e à exclusão. Os vínculos e o amor se conservarão, mas já não se limitarão à vida e às relações, mas se expandirão para alegria de todos.

Assim sendo, o evangelho de hoje é um convite a renovar nossa fé no Deus da vida, que fez de seu filho Jesus o primogênito dos que ressuscitam dos mortos, criando para nós o caminho da vida eterna.

Crer na ressurreição de Jesus nos leva a crer na nossa própria ressurreição, a celebrar a vida nova de nossos mortos e a esperar ativamente nos encontrarmos todos e todas no banquete eterno, onde todos, sem exceção, nos sentaremos na mesma mesa dos filhos e filhas de Deus.


Oração


Esperança


Lá bem no alto do décimo segundo andar do Ano
Vive uma louca chamada Esperança
E ela pensa que quando todas as sirenas
Todas as buzinas
Todos os reco-recos tocarem
Atira-se....E
— ó delicioso vôo!
Ela será encontrada miraculosamente incólume na calçada,
Outra vez criança...
E em torno dela indagará o povo:
— Como é teu nome, meninazinha de olhos verdes?
E ela lhes dirá
(É preciso dizer-lhes tudo de novo!)
Ela lhes dirá bem devagarinho, para que não esqueçam:
— O meu nome é ES-PE-RAN-ÇA...





Paz a todos vocês que estão em Cristo.


Louvai ao Senhor!



Por Cristo. Em Cristo. Para Cristo.


Que Deus lhe abençoe!

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